quarta-feira, 28 de julho de 2010

Capitulo 14- Lyra

Aos poucos o cheiro do mar e o balanço das ondas viraram partes da rotina. Aos poucos as aulas ficavam mais fáceis e os alunos mais habilidosos. Aos poucos Dan, Sara e Rebeca foram percebendo sua ligação com seus anicans cada vez mais, Dan e Sara tinham mais facilidade em relação a equilíbrio, enquanto Rebeca era mais habilidosa para se esquivar e saltar. Aos poucos eles perceberam que seus anicans falavam mais, falavam entre si e com eles, mostravam opinião e personalidade, coisas que sempre existiram, mas que eles só conseguiram perceber aos poucos. E muito rapidamente eles se acostumaram com tudo isso, e aos poucos iam esquecendo a vida que tinham antes de Anican.

Já estavam no mar há semanas e ainda não se ouvira data previa de chegada, eles iriam ancorar no litoral mais próximo do Palácio do Sol de Lyra, mas mesmo assim ainda era uma grande distancia a ser percorrida em terra. Algo que Dan achou estranho e talvez você ache também, é que o navio tinha mais mulheres do que homens, diferente dos navios onde além de haver apenas homens eram proibidas as mulheres, mesmo sendo apenas um detalhe Dan só foi perceber o motivo depois de uma historia contada por Dimitri.

Essa historia foi contada em uma noite fria com garoa quando ele chamou Dan, Sara, Rebeca e seus anicans para ficar com ele no camarote do capitão a estibordo do navio, Dimitri garantiu que não havia problema ficarem lá, afinal ele era o dono do navio, e eles naturalmente acreditaram. Narrar a historia que Dimitri contou exatamente como aconteceu ficaria confuso, pois Rebeca fazia perguntas todo o tempo, Will ficava o corrigindo para mostrar que sabia contar melhor que ele e Censis não parava quieto no lugar distraindo-os e fazendo Dimitri esquecer em que parte estava. Comecemos pelo motivo que os levou lá: um nome. Um nome que se repetia todo o tempo no navio, Sara ao ouvi-lo lembrou-se do livro que leu, onde este nome estava escrito com tinta dourada: Lyra. No navio se ouvia pelo menos cinco vezes por dia a expressão “Por Lyra” e cada vez mais esse nome foi aparecendo, até que chegou aos ouvidos de Rebeca que não pensou duas vezes e perguntou para Dimitri: “Quem é Lyra?” ele disse que para responder isso era preciso contar uma historia, uma historia comprida demais para contar naquele momento. “Que momento então?” marcaram para depois do jantar, no camarote do capitão.

A historia que Dimitri começou então a contar, nada mais foi que a historia da criação de Anican, como tudo começou, e começou com Lyra. Antes Anican não tinha nome e nem era um mundo, era o pedaço de outro mundo que devido as fortes armas de guerra havia se separado deste. A guerra era dos humanos contra os animais, e devido ao total isolamento e a guerra em si, cada vez mais foram morrendo pessoas e animais e cada vez menos nascendo. A guerra destruiu tudo e todos, até chegar a um ponto em que restaram apenas destroços e sobreviventes que estavam cansados de lutar. Então chegou (ninguém sabe como) uma mulher e uma leoa, as duas com poderes surpreendentes, uma delas era Lyra. Houve um clarão que impossibilitou enxergar qualquer coisa, e quando este clarão sumiu Anican se havia criado, os destroços tinham sumido e arvores ocupavam seus lugares, um novo sol estava brilhando enquanto o velho tinha sido apagado e virado o que chamamos de lua, o pedaço de mundo havia virado um novo mundo nomeado Anican, onde Lyra disse que ao contrario do que era antes, esse novo mundo seria dos humanos e dos animais, onde eles teriam uma forte ligação e dependeriam um do outro, os humanos e animais que ali já estavam permaneceram, depois Lyra por fim criou um lago, e desse lago sairam os anicans, que no momento certo buscariam seus humanos.

Ao terminar de contar Dimitri esperou a pergunta que sabia que fariam, imaginou que viesse de Rebeca, mas se surpreendeu ao ouvir a pergunta vindo de Sara: “Mas quem é Lyra? A mulher ou a leoa?”.

Dimitri sorriu: “Essa, minha cara, é o maior mistério de Anican, ninguém sabe”. O que viria a seguir ninguém também nunca soube, pois o capitão apareceu, e ficou furioso ao encontrá-los em seu camarote, antes que ele falasse uma palavra Dimitri começou a falar, mas ao contrario do que eles imaginavam Dimitri colocou a culpa neles: “Desculpe capitão, eles me distraíram e quando vi já estavam aqui, me induziram a trazê-los aqui e não consegui dizer não,...” o capitão continuou parado, não disse nada e nem foi preciso, pois seu olhar fuzilador já dizia tudo. Dimitri apontou a porta e eles começaram a sair, Rebeca estava se segurando para não dizer nada, foi a ultima a sair, quando estava a um passo da porta o capitão esticou o braço bloqueando a passagem, “ladra!” foi só o que disse retirando sua luneta que estava muito a mostra do bolso de Rebeca que não conseguiu mais se conter:” Não fui eu! Não sou ladra, Dimitri armou para mim, para que iria querer essa luneta idiota?!” o capitão nada respondeu e Rebeca saiu do camarote, seguida por Dimitri. Apenas mais tarde Rebeca descobriu que a “luneta idiota” era de fato uma peça rara, feita pelas mais talentosas sereias, além de custar muito cara. Os três anicans e seus humanos foram para o quarto de Sara e Rebeca, Dimitri os seguiu, foi o ultimo a entrar fechou a porta e quando se virou Dan estava com a espada na mão, apontada para a garganta dele:

- Traidor.
- Garoto não acuse sem saber da historia completa. O capitão tomou curiosidade por vocês, tão jovens e já com armas desse porte, quis saber mais e quando ele tenta descobrir algo vai a fundo, fiquei com medo de descobrir quem a Sara é, por isso coloquei a luneta no bolso de Rebeca (luneta que na verdade ele queria recuperar depois de perde-la para o capitão em um jogo), agora ele não está nem aí para quem são só quer que saiam do navio dele.
-Disse que iríamos descer no litoral mais próximo do palácio.
-E vão, estamos perto, é a próxima parada, não dou nem uma semana para já estarem longe desse navio.

Dimitri já não tinha a espada colada a garganta. A historia que Dimitri contou gerou varias conversas, aos poucos os anicans conseguiram explicar a seus humanos por que era daquele jeito. De modo geral os anicans acreditavam que era a leoa e os humanos que era a mulher, não saber quem é Lyra (a mulher ou a leoa), era de certa forma o que mais dava a Anican seu equilíbrio.

Dan e Will estavam observando o mar, já conseguiam ver um pontinho que Dimitri os havia garantido que era terra, em poucos dias estariam desembarcando. “Está cada vez mais perigoso, e eu acho que você esta mudando de foco, perdendo seu objetivo, sabe do que estou falando” disse Will, “Não esqueci dele se é o que quer dizer, mas tenho que ajudar Sara primeiro, e sabe que depois será mais fácil encontra-lo.” respondeu Dan, com os pensamentos ainda no irmão.

-Só espero que o encontremos antes dos lobos, sei que já falamos disso e que acha que não estão atrás dele, mas ainda acredito que estão.

Dan nada respondeu, só continuou com seus devaneios e olhando para o mar, enquanto eles aos poucos ficavam cada vez mais perto do pequeno ponto de terra.

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