sábado, 6 de março de 2010

Capitulo 12- Os presentes da sereia

Todos os olhares se voltavam para Dan. Sara e Rebeca se aproximaram um pouco, Dan pegou discretamente sua muleta de Rebeca. O "senhor - coruja" agora olhava para Dan com certo respeito, de modo que se virou dando passagem a eles, todos os outros o fizeram o mesmo deixando uma passagem estreita e reta para eles passarem.

Os quatro foram para o quarto de Dan, pouco depois Censis apareceu, faltando só Will, que na verdade já estava no quarto e até então ninguém o tinha notado. Sara olhou para Suz que olhou para Dan, que olhou para Rebeca, que por sua vez disse: "E então, quando vamos partir?” Dan nada disse, apenas olhou para Rebeca com uma cara de " já falamos sobre isso." porém Rebeca não parecia triste ou chateada, pelo contrário, estava alegre e radiante.

- Vocês não têm escolha, terão que me levar. Pois eu tenho um plano de fuga, que por sinal não pode ser realizado sem mim. Rebeca falava rápido, sem dar a oportunidade de ser interrompida, continuou: Dan não consegue andar direito com essa perna, correr nem em sonho, de modo que o melhor jeito é ir cavalgando. Com cavalos seriamos mais rápidos e Dan não ficaria prejudicado. O que por coincidência tem aqui no vilarejo, um estábulo com cinco cavalos, trancado e tendo apenas uma chave, chave única que por sinal está comigo, MUITO bem escondida.

- Esse é o "plano de fuga”? Perguntou Sara.

- Em parte. Bem, não podemos ir para traz, pois só tem o rio onde deságua a cachoeira, o problema de seguir em frente é que os lobos também virão de lá o que traz o risco de nos encontrarmos no caminho. Por isso sugiro ir reto até sair do vilarejo e depois sair do meio da floresta e ficar seguindo o rio até chegar numa cidade pouco longe daqui.

- Como sabe disso tudo? Mas a resposta já estava obvia, Rebeca apenas a confirmou: “Conversei com uns amigos...”.

Dan estava sentado na cama e Rebeca perto da porta, Dan ao se levantar parou perto de Rebeca, com menos de um metro de distancia: “Você conseguiu Rebeca, vai com a gente. Só que você ainda não percebeu o perigo dessa jornada, e quando perceber vai ser tarde demais para voltar.”.

Todos queriam dormir um pouco e partir pela manhã, mas sabiam que iam precisar pegar comida e os cavalos escondido, ninguém se sentia confortável com isso, mas era a única opção. Cansados e com sono os três foram noite adentro pegar tudo quanto necessário para a fuga, com os anicans de vigia. Pegaram algumas mochilas, dentro colocaram cobertores e comida para eles e os cavalos, Rebeca quis pegar mais enquanto Dan pegou apenas o necessário. As meninas calçaram botas e os três, capas, que tinham um botão na frente e uma toca, ninguém conseguiu distingui a cor exata, pois estava muito escuro.
Depois de tudo pronto os seis foram para o estábulo. Rebeca pegou a chave, que estava em Censis como se fosse um colar, que na verdade era a chave com um barbante, escondida embaixo de todo aquele pelo. Lá dentro, como Rebeca dissera, tinha cinco cavalos: um branco, um preto, um bege, um cinza, e dois marrons.

Sara ficou com o cavalo branco, Rebeca com o bege e Dan com o preto. Rebeca sabia montar muito bem, Dan mais ou menos, já Sara nunca subira em um cavalo antes. Depois de colocadas as rédeas e as celas, e as mochilas presas nas celas, eles montaram. Os anicans estavam dentro das mochilas, sendo carregados. Rebeca ajudou Sara a montar e assim partiram, silenciosamente durante toda a madrugada.
Para todos alguma coisa mudou de alguma forma, antes deles irem para o vilarejo e depois. Mais a maior mudança com certeza foi em Sara. Agora ela sabia toda a verdade, e finalmente aceitou o fato de que estava em Anican, que ainda não podia voltar. Agora ela tinha um objetivo: voltar com seu pai. Estava determinada e depois de aceita a aventura tudo se tornou mais fácil, e agora ela podia voltar com seu pai, essa idéia a tomava por completo e a enchia de esperança.

Com os anicans nas bolsas eles cavalgaram até saírem do vilarejo e acharem o rio que servia de guia. Muito cansados e com inveja dos anicans que dormiam desde a partida, eles pararam e adormeceram em baixo de uma arvore. Will que praticamente só dormira na sua estada no vilarejo agora estava acordado, vigiando tudo a volta deles, com seus olhos verdes que brilhavam e pareciam refletir a lua.
Quando amanheceu todos acordaram, comeram, e continuaram a seguir o rio. Foi assim por três dias. Três agradáveis dias. Por mais que tivesse outros sentimentos envolvidos o que mais prevalecia agora era o da amizade. Uma amizade que nenhum deles poderia imaginar presenciar. Eles iam devagar, conversando. Com os anicans correndo e brincando na relva (com exceção de Will), agora não era só Rebeca que falava, mesmo ainda sendo a que mais falava. Os três conversavam o dia todo, se conhecendo cada vez mais, o mesmo parecia acontecer com seus anicans. Às vezes quando as coisas estão boas, muito boas, você sente certo medo, como se as coisas estivessem boas demais e que fossem ficar ruins de repente. Não foi assim que aconteceu, as coisas ficaram ruins aos poucos. A principio a comida acabou depois o rio estava sujo naquele trecho, de modo que ficaram sem água, depois desviaram um pouco do caminho a procura de comida e água e quando deram por si estavam perdidos.

Cansadas e perdidas, Sara e Rebeca queriam parar, Dan com sua natureza de líder as convenceu do contrario e as guiou toda a tarde que se seguiu de mal-humor, silencio e cansaço, até que finalmente encontraram um lago. Perto dele tinha uma grande arvore com frutos cujos qual ninguém conhecia. Como se fosse uma miragem eles correram na direção dela com medo que sumisse de repente, todos beberam a água do riacho e comeram dos frutos. Dan, Sara e Rebeca logo adormeceram, cansados. Will, Suz e Censis depois de saciados fome e sede estavam mais despertos do que nunca, pois tinham sido carregados quase todo o caminho. Passadas horas, os anicans acordaram seus humanos, que por sua vez estavam muito mal-humorados. “Tem mais alguém aqui.” disse Will. Todos ficaram em alerta, seguiram o olhar de Will e viram o lago agora iluminado pela lua (que é muito maior que a nossa) . Dan se aproximou, passo a passo, até ficar muito próximo do riacho, mais um passo e molharia os pés. Achou ter visto algo e se abaixou, nada, quando estava prestes a se levantar sentiu uma mão puxando-lhe o calcanhar, gritos, água, faca. Dan estava com água até a cintura e com uma faca encostando sua garganta. “Quem são vocês?” disse com uma voz doce demais para a ocasião. Ela estava como Dan com água até a cintura, com calma afastou um pouco a faca da garganta de Dan para ele poder responder.

- Não somos uma ameaça, nem inimigos. Estávamos perdidos, com fome e sede, por isso paramos aqui. Vamos partir ao amanhecer. Dan não conseguiu demonstrar tanta calma, mas demonstrou muita coragem de modo que a faca foi retirada de perto de sua garganta.

- Entendo. Mas, o que três adolescentes fazem tão longe de casa? As cidades e vilarejos mais próximos ficam a dias daqui. Estão fugindo, de algo ou, de alguém. -Ela falava mais pra ela mesma do que pra eles, pelos olhares sabia que suas afirmativas eram verdadeiras, sentou-se na beira do lago enquanto Dan já tinha saído dele, encharcado. De costas para ela olhou para Sara e Rebeca, estavam paralisadas, Dan se virou e fez à mesma cara que elas. Entre todas as estatuas, Suz andou a caminho do lago, e foi falar com a sereia.

Seu cabelo era prateado, como seus olhos, que tinham uma interessante mistura de prata e azul. Usava um top que parecia feito com conchas de verdade, e muitas jóias. Barriga nua, e depois uma cauda, lilás e prata. Ela toda parecia brilhar, mas ao mesmo tempo não emitir luz, docemente sorria, não achou que ficariam tão surpresos. Suz que agora estava bem próxima disse:

- Por favor, nos ajude, cure meu irmão que está com muita dor.

- Foi nele o ferimento? perguntou com sua voz doce e calma.

- Não, foi em seu humano.

- Traga-o aqui. Suz olhou para Dan que ao entender foi sem a muleta (mancando) até elas.

- Contem-me o motivo de estarem fugindo. Não era um pedido, mesmo sendo dito docemente. Foi Suz quem contou o mais resumido e sem detalhes que conseguiu: “Minha humana é a princesa de Anican, de modo que os lobos e todos os seus seguidores estão atrás de nós.” Os olhos da sereia se voltaram para Sara, como ela sabia que era Sara a princesa e não Rebeca já que Suz não contara essa parte ninguém nunca soube. Sara por um instante se sentiu hipnotizada por sua beleza e foi ao encontro da sereia.

- Meu nome é Íris, e será magnífico poder servir a você e seus amigos. Não lhe posso oferecer segurança, pois esta só se encontra no fundo desse lago junto das outras sereias, e vocês não aguentariam ficar longe da superfície. Mas posso oferecer água, comida, e a mais adorável noite de sonhos de suas vidas. Ao acabar de falar começou a cuidar da perna de Dan, com a faca que há minutos antes estava na garganta dele, agora cortava a barra da calça deixando o ferimento à mostra. Mais tarde ela afirmou que era muito mais grave que uma perna quebrada. Com algas concluiu com um curativo. “Tire-o amanhã quando acordar.” depois disse para que dormissem todos, pois iriam precisar estar muito despertos para o dia seguinte.

Um dos mistérios daquela noite é como a sereia conseguira faze-los ter a melhor noite de sonhos que já tiveram e teriam em todas suas vidas. O outro foi Rebeca não ter falado  nada na presença da sereia.
Ao acordarem, comeram e beberem, todos satisfeitos e felizes pela ótima noite de sono. Dan retirou o curativo e se surpreendeu ao ver que sua perna estava ótima, como se nunca tivesse ficado ruim. Enquanto as meninas se aprontavam para partir Dan ficou atrás das arvores com sua capa envolta de sua cintura, a sereia costurava sua calça, devolvendo-a quando terminou. Quando todos estavam prontos para partir, desta vez sem os anicans nas bolsas, pois estes se encontravam animados e cheios de energia, principalmente Will, foram se despedir da sereia. Ela agora nem parecia ser a mesma, tudo que antes nela era prateado, agora era dourado. Com seu anican do seu lado (um golfinho, Liss) ela se despediu de todos. “Tenho presentes para vocês.” disse olhando para Dan, Sara e Rebeca.

Dan se aproximou e ela o entregou uma espada, brilhante, fina, leve, e afiada, com a base repleta de pedras preciosas. Para Rebeca um lindo arco e flecha dourado, com flechas também douradas e com detalhes nas pontas. Para Sara também um arco e flecha, só que prateado.

-Espere! Tenho outra coisa pra você. Ela retirou o colar que estava em seu pescoço e colocou no de Sara. Sua corrente era de ouro e seu pingente era circular, lilás-dourado, que mais tarde Sara iria notar que como a sereia, de noite ficava lilás-prateado, e disse: "Procure por Dimitri quando chegar à cidade, ele vai ajudá-los."

Assim eles partiram, Dan com a espada na cintura, Sara e Rebeca com os  arco e flechas nas costas, Rebeca olhou para Dan e perguntou: “Será que um dia usaremos esses presentes?” ele, sem certeza, respondeu: “ Eu não sei Beca, eu não sei.”

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